venerdì, marzo 13, 2009

100 Anos de Flor do Lodo


100 Anos da Flor do Lodo

Hoje, 13 de março de 2009, minha avó Rosa dos Santos Marques completaria 100 anos.

Pessoa particularíssima. Falava pronunciando os “RRs”e os “SSs” como se os reverenciasse, produzindo efeitos de comentário às suas palavras que podiam ser de ironia, raiva, desprezo ou de ameaça. Vovó Rosa se auto definia a “Flor do Lodo” por ter vivido em um bordel sem nunca ter abraçado a profissão mais antiga do mundo, ao contrário de sua irmã, nossa tia Pina, personagem fabuloso. Seu cafuné era acariciar o nariz dos netos procurando afiná-los um pouco mais na sua incessante batalha para a purificação da raça da família. Negra não, e nem mesmo mulata. No seus documentos ostentava o status de “Parda”. Muito antes do Michael Jackson, Rosa dos Santos Marques já utilizava cremes para clarear a pele. Se fosse viva hoje seria mais galega que a Xuxa. Adorava ir ao médico. Conhecia o nome e as características de inumeráveis patologias, pois sofria de todas elas e as tratava como se fossem suas velhas e novas amigas, como se as colecionasse. Seguia os avanços da medicina pelas páginas dos jornais e se apropriava imediatamente das novas doenças que apareciam, apressando-se a marcar uma consulta urgente com o médico de família para começar a tomar aquele novíssimo remédio para o tratamento das suas moléstias incuráveis. Paradoxalmente, Rosa era uma viajante incansável. Qualquer desculpa era boa pra fazer as malas: visitar um parente, controlar as obras das casas que ela vivia construindo sem nunca terminá-las, fazer um tratamento de saúde em uma estação termal ou simplesmente para mudar-se. Vivia mudando de casa. Mas o endereço que ficou marcado como sendo a casa da vovó foi o do Beco dos Aflitos, ao lado da Igreja dos Enforcados, travessa da Rua dos Estudantes, paralelo à Rua da Glória, no Bairro da Liberdade.

Nascida em Mococa, Rosa Franco dos Santos, filha de Emídia Ribeiro dos Santos e de Sebastião Barbosa dos Santos, casou-se com Augusto Marques Junior, para a vergonha da família dele, com quem teve três filhos: minha mãe Marilva que era a mais velha, meu tio Atílio que era o seu xodó e minha tia Olga, a caçula e a única ainda viva, lúcida e maravilhosa. Minha vó Rosa foi uma pessoa muito controvertida, complicada e cheia de defeitos e esquisitices no dizer da maioria das pessoas que a conheceram de perto e que sempre a criticaram. Todos reconhecem porém a influência que exerceu sobre todos os outros familiares e o modo como condicionou o curso da nossa história individual e familiar. No fundo, Rosa foi muito amada pelo marido, pelos filhos e também pelos netos. Reconheço muitos dos seus traços em mim e nos membros da nossa família, sobretudo naqueles que mais apaixonadamente a criticam. Da minha parte posso dizer que sempre gostei muito dela e neste momento, que estou escrevendo estas palavras à frente do monitor do meu computadorzinho portátil, vejo a sua imagem, de óculos escuros, assistindo filme de terror na televisão, ou lendo o jornal, lamentando-se de dor em todo o corpo, principalmente na barriga por causa da sua velha diverticulite, caindo da escada, brigando com minha mãe ao telefone, ralhando com a gente pelo modo barulhento e descuidado com que jogávamos com os brinquedos modernos que ela comprava pra gente no Mappim e na Sears, e penso como seria gostoso se ela estivesse aqui para eu poder dar um beijo nela, para agradecê-la e desejar-lhe muitos outros centenários de vida.

1 commento:

Dauro Veras ha detto...

Linda homenagem, Ayres.