domenica, novembre 05, 2006

RE-INVENTANDO A FOTOTERAPIA NA ITALIA

© 2006, Ayres Marques Pinto, Fotógrafo e Animador sócio-cultural – fototerapia@libero.it

Re-inventando a Fototerapia na Itália
Ayres Marques Pinto, 2006

Não sabia da existência da Fototerapia quando decidi compartilhar o prazer de fotografar com pessoas que estavam atravessando um momento difícil da vida. Simplesmente era consciente da transformação que ocorreva dentro de mim sempre que saía carregando minha máquina fotográfica: prestava mais atenção às coisas ao meu redor, as emoções ficavam mais intensas e criava-se um tipo diferente de contato visual com as outras pessoas.
Inspirado a esta percepção elaborei o projeto Foto-Inconsciente que consistia basicamente em envolver ativamente os hóspedes de uma comunidade psiquiátrica nos vários momentos do processo fotográfico: posar para uma foto e fotografar (dentro e sobretudo fora da comunidade), construir o álbum de família e contar as histórias que as fotos mostravam, revelar os negativos e copiar as fotos no laboratório, escansionar e retocar as imagens ao computador, selecionar as fotos e organizar uma mostra.
A idéia deste projeto teve origem em Natal, no Rio Grande do Norte, quando em 1995, realizava a video-antologia “Um Dia – A Poesia”, em comemoração ao 14 de março, dia nacional da poesia. O poeta visual, Doutor Franklin Capistrano, foi o primeiro a aceitar o convite a participar do video, que foi rodado no seu local de trabalho: o manicômio da cidade.
Enquanto o psiquiatra recitava seus poemas visuais pelos corredores do hospital, reparei que os pacientes nos observavam com curiosidade e que muitos deles queriam participar à performance. Foi naquele período que comecei a imaginar como seria interessante realizar um percurso fotográfico juntamente a pessoas com distúbios mentais.
A oportunidade para concretizar aquela idéia se apresentou em 2001, na Itália, quando uma amiga psicóloga, Rita Messi, falou sobre o meu trabalho à Loredana Chielli, diretora da casa comunitária psiquiátrica “Il Filo di Arianna”, O Fio de Ariana que é admnistrada pela cooperativa social ASS.COOP de Ancona.
Na minha primeira visita ao Fio de Ariana, fui recebido por um senhor muito elegante e atencioso que escutou com interesse a proposta do projeto. Ao términe da apresentação o senhor conduziu-me gentilmente à sala da diretora. Somente então comprendi que não havia conversado com o psiquiatra mas com um hóspede da comunidade.
No escritório, além da diretora, encotravam-se duas pessoas: um jovem que mastigava nervosamente as pontas dos seus longos cabelos, e uma senhora muito maquiada, com cabelos tingidos de um vermelho Ferrari e que tinha uma voz grave e fumava avidamente.
Percebendo o meu constrangimento em falar do projeto na presença de terceiros, Loredana apresentou-me àquelas pessoas estranhas: tratavam-se de dois educadores.
Expus novamente, com um pouco menos de entusiasmo, a proposta de realizar um percurso fotográfico, chamado Foto-Inconsciente, com os hóspedes e os operadores da comunidade. Foi aprovado.
Por dois anos percorremos toda a cidade de Ancona fotografando e revelando os negativos, imprimindo as imagens que mais tarde foram expostas em uma mostra que surprendeu a todos pela sua força e originalidade.
Esta experiência permitiu que comprendêssemos o quanto e em que modo os atos fotográficos podiam ter um valor terapêutico.
É verdade que qualquer atividade é potencialmente terapêutica. Caminhar, dormir, praticar esporte, ir ao cinema, tocar um instrumento, rir, bater um papo e, portanto, fotografar, olhar e mostrar fotografias pode ser profundamente terapêutico; mas o é em uma maneira muito particolar, devido ao processo de criação da imagem fotográfica.
Dado que a imagem fotográfica não é construída manualmente, mas sim capturada diretamente do mundo esterior, o fotografo é obrigado a “sair” de dentro de si mesmo e estabelecer um contato com a realidade e criar uma ligação entre o seu mundo interior com aquele que o circunda. Este tipo de relação “dentro-fora”, intermediada por uma máquina fotográfica, dá ao fotógrafo um poder decisional dificilmente comparável a qualquer outra atividade. O fotógrafo é o único a decidir, entre tantas possibilidades, aquilo que será “imortalizado”.
No decorrer deste percurso fotográfico, pude observar algumas pessoas, que eram completamente absorvidas por suas preocupações, levantarem os olhos e começarem a olhar o mundo simplesmente porque carregavam uma máquina fotográfica. Encontrei pessoas, com baixa auto estima, mostrarem orgulhosamente ao público as fotos que tinham tirado e imprimido autonomamente.
Uma vez perguntei a um hóspede de 50 anos, senhor F. D., que tinha vivido grande parte da sua existência em instituições psiquiátricas, o porquê dele gostar tanto de fotografar e em que modo ele pensava que a fotografia o estivesse ajudando. Ele contou que toda a sua vida foi atormentada pela ânsia, mas quando saía para fotografar, era capaz de passar muito tempo olhando através do visor e que, enquanto esperava o momento exato para capturar a imagem que desejava, a sua ânsia desaparecia. “Sinto-me suspenso no tempo, como se não houvesse um passado ou um futuro com o qual preocupar-me, mas somente o presente”.
O senhor F.D. revelou-se um fotógrafo muito original, com um senso de composição do tipo geométrico. Nas suas fotos Ancona parecia uma cidade sempre vazia, sem habitantes.
Fiz a mesma pergunta a uma outra hóspede da comunidade, L.C., uma adolescente que tinha saído de casa precocemente e que, apesar da sua jovem idade, havia acumulado muita experiência de vida, nem sempre positiva. L.C. explicou-me que vivia em uma espécie de simultaniedade, “a 360 graus”. “Sempre quiz ver tudo, experimentar tudo e ao mesmo tempo”. “Quando fotografo, porém, apesar de sentir-me livre para fotografar tudo aquilo que quero e como quero; sou obrigada a escolher uma pequena porção do mundo por vez”. Esta limitação imposta pela máquina fotográfica demonstrou-lhe que ela podia ser ela mesma e exprimir-se livremente mesmo quando era obrigada a dialogar com restrições impostas por um instrumento, e por extenção, por regras da sociedade. Enquanto os outros hóspedes escolheram mostrar uma seleção de poucas fotos estampadas em tamanho grande, L.C. prefiriu expor um grande número de fotos de tamanho pequeno que juntas formavam grandes painéis.
F.D. e L.C. deixaram a comunidade logo após a mostra. L.C. comcluiu o segundo grau e matriculou-se ao DAMS da Universidade de Bolonha. Seu primeiro exame foi Fotografia. F.D. foi morar sozinho no apartamento deixado pela sua mãe e conduz uma vida normal, dedicando-se ao estudo e a viagens pela Europa.
Não afirmo certamente que a fotografia tenha sido a única responsável pelo desfecho positivo destes dois casos, mas acredito que este percurso fotográfico tenha desempenhado um papel importante no processo de cura de F.D. e L.C. .
Entre outros fatores que contribuíram para o bom êsito deste primeiro intervento, mencionaria três que considero especialmente importantes:

o fato de ter sempre rejeitado o papel de instrutor de fotografia. Em nenhum momento me preocupei em ensinar ninguém a fotografar. As noções técnicas de fotografia eram levadas em consideração somente quando alguém do grupo sentia a necessidade. Mesmo assim, fazia questão de sublinhar a importância primordial da originalidade e da individualidade do olhar de cada um.
a fotografia passou a fazer parte do DNA do homem contemporâneo. Fomos fotografados desde que nascemos e vivemos circundados por fotos, nas bancas de jornais, nos muros da cidade e nos meios de transporte. A maioria de nós, pelo menos uma vez na vida, tirou uma foto. Marshall McLuhan, afirma que a fotografia passou a fazer parte da nossa forma mentis; segundo ele, o homem do século XX vê fotograficamente. Por esta razão a fotografia é um instumento que nos é familiar e portanto acessível a todos. Paradoxalmente a fotografia exige de nós um esforço de exposição menor do que outros meios de expressão mais antigos e pode representar uma ponte que conduz à pintura (através da colagem, por exemplo), à literatura, ao teatro, à dança e à musica.
a fotografia é um excelente instrumento de aglutinação. A fotografia faz grupo.

Ao final desta primeira experiência, senti a necessidade de informar-me a respeito das possibilidades de aplicação da fotografia como instrumento reabilitativo e terapêutico. Iniciei a pesquisa perguntando aos membros da equipe com a qual trabalhava na comunidade se poderiam sugerir-me alguma referência bibliografica sobre este tema, mas não obtive nenhum resultado positivo. Consultei alguns amigos fotógrafos, um professor universitário de psicologia e um bibliotecário sem conseguir nem mesmo um título. Navegando em Internet descobri que por fototerapia se entende principalmente diversos tipos de terapias em âmbito dermatológico e psicológico que utilizam a luz (photo em grego) para o tratamento de algumas patologias. A esta altura comecei a pensar que tivesse descoberto alguma coisa de novo, alguma coisa que eu chamei de Fototerapia Ativa.
Até que um dia L.C. convidou-me para assistir à aula de inauguração anual do curso de Fotografia do DAMS da Universidade de Bolonha, com o professor Claudio Marra. Antes de partir para Bolonha passei em uma livraria e comprei um livro do Professor Marra: Le Idee della Fotografia, publicado pela Mondadori. Este livro recolhe uma centena de textos escritos por filósofos, historiadores, estudiosos de comunicação e semiótica, artistas, poetas, escritores, sociólogos e também psicólogos e psiquiatras. Participam a esta antologia alguns nomes famosos como: Roland Barthes, Umberto Eco, Italo Calvino, Paul Valéry, Susan Sontag, Wim Wenders, Marshall McLuhan, Philippe Dubois e André Bazin.
Entre os vários textos havia um fragmento do livro “Fototerapia e Diário Clínico” de Giusti e Proietti, da editora Franco Angeli. Este livro, que não está mais em comércio, é um guia introdutório ao uso da fotografia e da escritura de diário em um contexto psicoterapêutico.
Os autores do livro declaram de terem percorrido um caminho aberto anteriormente por duas estudiosas: Linda Berman e Judy Weiser.
Linda Berman, psiquiatra inglesa, é autora do livro “Beyond the Smile: The Therapeutic Use of Photography” que foi publicado na Itália pela Erickson Edizioni, em 1993, com o título “La Fototerapia in Psicologia Clínica”. Neste livro a autora repercorre o seu itinerário de descoberta da potencialidade do uso da fotografia na sua prática de psicoterapeuta. A autora relata suas experiências e conduz suas reflecções baseada em numerosos casos clínicos.
Judy Weiser, psicóloga americana, é autora do livro “PhotoTherapy Tecnics – Exploring the Secrets of Personal Snapshots and Family Albums” e coordenadora de um site sobre a fototerapia: www.phototherapy-centre.com .
Considero paricularmente instigante a divisão, proposta no site mencionado, entre a prática da fototerapia de um lado e da fotografia terapêutica do outro. Segundo a autora, fototerapia significa a utilização da fotografia como instrumento de apoio ao processo psicoterapêutico, ou seja, a utilização da fotografia em terapia. Neste caso, terapia significa exclusivamente o processo formal em que um operador da área da saúde mental, dentro dos limites formais do setting psicoterapêutico, ajuda um pasciente a enfrentar as suas dificuldades emocionais. A fotografia terpêutica, por sua vez, compreenderia todas as outras práticas que utilizam a fotografia fora do setting terapêutico com a finalidade de ajudar as pessoas por parte de outros profissionais que não sejam necessariamente terapeutas. Neste caso, terapêutico tem o mesmo significado que os gregos atribuíam à palavra “terapeia”, ou seja, tratamento, cura, cuidado.
Esta nomenclatura não é universalmente aceita. Joe Spence e Rosy Martin, duas importantes pioneiras neste campo, têm opinião diferente a respeito da definição de fototerapia. Para Joe Spence fototerapia significa “literalmente, utilizar a fotografia para a cura de nós mesmos” e observa que a “fototerapia deveria ser vista em um contesto mais amplo da psicoanálise, mas sempre levando em consideração a possibilidade da TRANSFORMAÇÃO ATIVA”.
Nesta perspectiva, o projeto Foto-Inconsciente, realizado na comunidade Fio de Ariana, seria classificado como um intervento de fototerapia segundo a definição de Joe Spence, ou, de acorodo com Judy Weiser, de fotografia terapêutica , visto que as atividades não aconteciam em um contexto terapêutico formal. Não utilizávamos a fotografia como pretexto para estimular a verbalização de sentimentos e lembranças. O nosso objetivo principal era simplesmente que nos abandonássemos ao prazer de fotografar em grupo, esquescendo por um momento as preocupações quotidianas. Acredito que era exatamente esta postura que transformava os nossos encontros em alguma coisa de terapêutico sem que fosse terapia no sentido formal da palavra.
A pesquisa bibliográfica continuou graças ao empenho do bibliotecário da Biblioteca Municipal de Loreto, Alessandro Finucci, que procurava livros sobre a fototerapia nas bibliotecas do mundo inteiro. Foi assim que chegou às minhas mãos um trabalho que, na minha opinião, representa ainda hoje um guia teórico completo para quem deseja utilizar a fotografia seja em terapia que como terapia. Trata-se do livro “Phototherapy in Mental Health”, organizado por David A. Krauss e Jerry L. Fryrear, publicado pela Charles C Thomas Publisher. O livro se propõe a “oferecer uma visão geral no campo da fototerapia, introduzir o leitor à história da fotografia e da sua utilização terapêutica, mostrar como a fotografia é usada em terapia e quais são os pricipais conceitos de psicoterapia aplicáveis à fototerapia”.
Esta obra foi-me útil para a elaboração do projeto “La Mente nel Mirino”, (A Mente no Visor), realizado no Centro de Saúde Mental de Osimo, a partir de 2004.
Este segundo intervento foi caracterizado pelo trabalho de equipe, que era fomada por dois psiquiatras, um psicólogo, três enfermeiros e eu como animador sócio-cultural com experiência em fotografia terapêutica.
A figura profissional do animador sócio-cultural é pouco conhecida e pouco utilizada. Esta nova figura, que opera no social a favor do bem estar de indivíduos e de grupos, serve-se de específicos instrumentos lúdicos, espressivos e de ativação cultural. Guido Contessa, pioneiro da animação profissional na Itália, demonstra em seus trabalhos, como a animação possa partecipar ao processo educativo, ao processo artístico ou a uma programação terapêutica mantendo a sua específica modalidade de atuação. A redefinição do meu papel no trabalho de grupo, a coordenação do psiquiatra responsável pela equipe, Doutor Vinicio Burattini, e os encontros regulares de programação e avaliação permitiram-nos conduzir um intervento multidisciplinar mais conscientemente organizado. O grupo era formado por pacientes entre 25 e 40 anos, com distúrbios graves, que residiam com a família e frequentavam o CSM – Osimo para tratamento ambulatorial. A principal atividade do projeto consistia na organizzação expedições fotográficas que aconteciam nas cidades das Províncias de Ancona e Macerata e na elaboração do material recolhido.
Esta experiência concluiu-se em Loreto, com a mostra-seminário “150 Anos de Fototerapia” que reuniu profissionais de diversas áreas que apresentaram e discuriram várias iniciativas de fototerapia na Região Le Marche. O evento recebeu o apoio do Assessores de Seviços Sociais e da Cultura da prefeitura de Loreto, senhor Francisco Baldoni e senhora Maria Teresa Schiavoni. Contamos com a experiência de organização da psicóloga do Centro de Saúde Mental de Ancona Norte, doutora Assunta Lombardi que também coordenou os debates.
O Professor Franco De Felice, docente de Psicologia na Universidade de Urbino e presidente da cooperativa social ASS.COOP, fez algumas considerações sobre o projeto Foto-Inconsciente, realizado na comunidade O Fio de Ariana, e sobre as teses de fototerapia que seus estudantes defenderam sob a sua orientação.
O Doutor Vinicio Burattini analisou vários aspectos do programa reabilitativo “A Mente no Visor – Um Passeio pela Cidade” do Centro de Saúde Mental de Osimo.
Nesta ocasião, apresentei o livro “Il Volto e la Voce del Tempo” (O Rosto e a Voz do Tempo), publicado pela Associazione BrasiLeMarche, 2005. Este livro relata várias experiências nas quais a fotografia foi utilizada com o objetivo de construir pontes geracionais para aproximar pessoas de idades diferentes. Em uma das iniciativas, alunos da escola do primeiro grau recebiam fotos de idosos residentes em asilos e eram estimulados a escrever a biografia imaginária daquela pessoa de quem conheciam apenas a fisionomia. Em um segundo momento, biógrafos e biografados se encontram pessoalmente pela primeira vez, mas se sentem como velhos amigos.
A mostra-seminário “150 Anos de Fototerapia” representou um impulso importante para a formação do Gruppo di Ricerca sulla Fototerapia (GRIFO).
Após o seminário, uma jovem psicóloga procurou-me para comentar a sua surpresa ao descobrir que a fototerapia existia há tanto tempo e mal conseguia disfarçar o seu constrangimento em constatar que não se tratava de uma sua invenção. Entendia muito bem o seu sentimento, pois eu também o havia experimentado alguns anos antes. Acredito que, ainda hoje, muitos não saibam que no dia 22 de maio de 1856, o doutor Hugh Welch Diamond, fotógrafo amador e psiquiatra do manicômio de Surrey, fazia à Royal Society of Medicine de Londres uma palestra sobre as possibilidades de aplicação da fotografia no tratamento de pacientes psiquiátricos, sendo portanto o primeiro “inventor” da fototerapia. Hugh Diamond teve a idéia de utilizar o novo instrumento tecnológico, a fotografia, para documentar com maior precisão os casos de patologias mentais. O psiquiatra inglês percebeu que alguns pascientes reagiam de maneira nova ao observarem as fotografias de si mesmos: tornavam-se mais conscientes da sua identidade corporal e passavam a prestar maior atenção ao aspecto físico. A auto estima era reforçada cada vez que olhavam uma foto na qual apareciam mais “bonitos”. Suas fotografias, seu discurso e os desenhos feitos a partir de suas fotos foram publicados no livro “The Face of Madness”, organizado por Sander L. Gilman, 1977, The Citadel Press.
Espero porém que muitas outras pessoas, nos quatro cantos do planeta, continuem re-inventando a fototerapia por muitos e muitos anos. É com este espírito que lanço este apelo:

Fototerapeutas do mundo, uni-vos!

Loreto, 22 de maio de 2006

Ayres Marques Pinto – Fotógrafo e Animador
fototerapia@libero.it

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